Eu tenho escrito sobre muitas coisas que se passam na minha alma e compartilhado algumas experiências e conhecimentos sobre teologia e espiritualidade, e agora eu vou escrever sobre algo muito íntimo e pessoal, a minha separação. Viver a experiência de uma separação é traumática em qualquer situação ou em qualquer religião. Mas para nós cristãos evangélicos isso se torna um peso que pode afetar a nossa espiritualidade, a nossa autoestima e até impedir que tenhamos uma vida plena na igreja.
De onde vem esse peso e como eu lidei com ele? Primeiro eu vou falar como essa questão aparece na Bíblia, depois como algumas igrejas lidam com essa situação e por último, como eu experimento a graça de Deus na minha vida, como mulher, mãe, pastora, teóloga e divorciada.
Na leitura dos textos bíblicos é possível perceber que o divórcio era uma prática comum na religião judaica, no entanto, em muitos casos a mulher ficava numa situação muito difícil, se ela não fosse aceita novamente no seio da família de origem. É justamente neste contexto, que Jesus se prenuncia em relação ao divórcio. Em sua declaração, Jesus diz que o adultério deve ser o único motivo que justificaria a dissolução do contrato matrimonial. E é justamente aí que os nossos problemas começam.
Será que a declaração de Jesus, nesta situação, deveria ser interpretada como uma lei, que ao ser quebrada tornam os faltosos em crentes de segunda classe? Creio que não. Por exemplo, no caso de adultério, ao invés do divórcio será que existiria lugar para o perdão? E para aqueles que não conseguiram permanecer casados, por diversos motivos: agressões, abusos, falta de amor, de cumplicidade, seja qual for, eles deixariam de ser objeto do amor de Deus?
Algumas igrejas impedem que os membros divorciados participem plenamente da vida da igreja. Algumas não celebram casamentos de segunda união. Outras só celebram o casamento de pessoas, cujo cônjuge adulterou. Neste caso, existe uma exposição de um dos cônjuges, e na maioria das vezes, a mulher é quem fica mais exposta. Será que essa é a única forma de lidar com essa situação? Será que a intenção de Jesus, que sempre criticava os doutores da lei e os fariseus, dizendo que eles colocavam fardos difíceis de carregar, ele mesmo criaria uma lei, para nos condenar a um casamento que só traz doença emocional até que um não aguente mais e adultere? Será que a imagem de Jesus exposta no Novo Testamento colabora para que interpretemos assim?
O que acontece, então com aqueles que se divorciaram? Podemos aceitar o discurso majoritário das igrejas e nos enchermos de culpa e de complexo de inferioridade. Algumas pessoas abandonam seus ministérios e a sua vida eclesial, porque entendem que depois da separação, elas não são dignas de orar, de frequentar uma igreja, ensinar ou pregar. Ou podemos ficar debaixo da misericórdia de Deus e nos percebermos como seres imperfeitos, carentes que precisam muito de Deus, como todos os seres humanos na face da terra. Nós não somos vocacionados a vida cristã por causa dos nossos méritos e perfeições, mas por causa da Graça e da bondade de Deus.
Eu segui o segundo caminho, sei que não sou perfeita. Sofri e sofro com o fim do meu casamento. Mas a vida é assim, a minha vida é assim e eu não deixei de caminhar na presença de Deus por causa disso. Eu não vou deixar de ensinar a Palavra de Deus por causa disso. Porque eu sou salva pela Graça e vivo o meu ministério por causa dela. Por isso eu falo com você, tenha Fé, entregue-se nas mãos de Deus. Jesus te ama, do jeito que você se encontra hoje, não existe um sistema hierarquizado de valores no Reino de Deus. Fica com Deus, até o próximo texto. Lembre-se de curtir, e também compartilhar com seus amigos. Grata! Silvana Venancio.
Texto sensível, piedoso, biblicamente embasado, relevante e, sobretudo, corajoso! Muito obrigado por escrevê-lo e dividí-lo conosco. Curti e vou recomendar para amigos e amigas.