Romper expectativas não é uma tarefa fácil. Mas, talvez, eu e você já tenhamos pensado em algum momento da nossa vida que podemos estar debaixo de uma tirania. A tirania de criar expectativas demais em relação às pessoas ou pior: de nos deixar levar também pelas expectativas dos outros.
E por que eu chamo essas duas atitudes de tirania? Porque, ou elas fazem mal as pessoas com as quais nos relacionamos ou elas nos fazem mal, e nos dois casos isso não é bom.
Quando eu crio expectativas demais em relação às pessoas a minha volta eu exerço, mesmo que de modo inconsciente, uma espécie de tirania do meu ego, onde eu desejo que tudo seja do meu jeito. Criamos um mundo e desejamos que as pessoas e as situações se adequem aquilo que planejamos ou idealizamos. E, quando as nossas expectativas são frustradas experimentamos um misto de decepção, raiva e somos quase sempre envolvidas num sentimento de tempo perdido, e essa dor pode ser chamada de desilusão.
O sentimento de desilusão, de expectativas frustradas pode vir de muitos lugares e cada uma de nós, cada um de nós vive um momento diferente na vida. Pode ser uma expectativa frustrada em relação à carreira, aos filhos, aos netos, a religião, aos relacionamentos afetivos. A questão mais importante aqui não é se perguntar por que as pessoas não correspondem as nossas expectativas, mas é nos perguntar por que agimos assim.
A expectativa pode ser algo bom se não for uma antecipação da vida. Vou explicar melhor: se não for uma maneira que a gente usa para fazer com que o mundo se organize de acordo com aquilo que achamos que deveria ser. Porque foi assim com os nossos pais, foi assim que você e eu aprendemos, ou porque foi assim que você sempre sonhou. O lado bom da expectativa é o da esperança, é ter o desejo de que tudo vai correr bem e esses sentimentos bons trazem junto com eles, boas energias, nos deixando mais leves e felizes.
Mas existe outro aspecto da expectativa que também não é bom, que é uma necessidade interna nossa de corresponder a todas as expectativas externas. É um sentimento que nem sempre é totalmente consciente de esperar que o outro - seja esse outro, o pai, a mãe, o filho, o marido, a esposa, o namorado - seja quem for, expressem através de palavras, gestos ou símbolos como eles gostariam que nós fossemos.
Pra mim, essa expectativa é mais difícil de romper do que a primeira. Porque a vida, o mundo, logo cedo nos mostram que entre a realidade e a nossa ficção existe uma distância enorme. Mas ter a coragem de romper com a ilusão do outro de não ser a filha perfeita, a mulher dos sonhos, a profissional mais competente, a pessoa mais santa é muito difícil.
Romper com a expectativa do mundo externo é assumir quem nós somos de verdade, com as nossas luzes e sombras. Romper com isso, é admitir que somos vulneráveis, que temos limites, que não conseguimos atender a todas as expectativas. E isso dói, pois no fundo todos nós queremos ser quase deuses. Mas somos apenas humanos. Não projetar expectativas e nem se deixar dominar por elas é uma maneira de deixar a vida fluir, sem controle. É preciso coragem para deixar de ser perfeita e ser apenas humana. Só Deus é Deus, somos apenas humanos, humanas. Gente de carne e osso. Querer ir além disso, é ceder à tentação da serpente. E o preço disso é muito alto. E nós sabemos muito bem qual é. Uma vida vulnerável nas mãos de Deus é muito melhor do que uma vida sufocante pra tentar ser quem nós não somos.
Fica com Deus, até o próximo texto. Lembre-se de curtir, compartilhar com seus amigos e deixar o seu comentário aqui. Grata! Silvana Venancio.
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