Quem não viu o filme A Substância talvez não perceba o impacto do discurso da atriz Demi Moore na premiação do Globo de Ouro. Eu chorei com a premiação da Fernanda Torres e com a premiação da Demi Moore. Eu adoro cinema, quando eu era pré-adolescente, década de 80, eu ia ao cinema sozinha, às vezes. Meus filhos herdaram esse gosto e trabalham com cinema. A noite do Globo de Ouro foi das mulheres. Eu fiquei muito impactada por essas duas atuações, da Fernanda Torres, como Eunice Paiva e da Demi Moore como Elisabeth Sparkle, mas quero ressaltar a atriz de “Ghost”.
Ver uma atriz revelar suas imperfeições, mostrar o seu corpo, de uma forma vulnerável, como Demi Moore em “A Substância” é dar adeus à juventude. Emma Thompson em “Boa sorte Léo Grande”, Fernanda Torres também fez isso em “Ainda Estou Aqui” e outras atrizes seguiram o mesmo caminho. Demi Moore recebeu um prêmio importante e o reconhecimento do seu valor como atriz na pós juventude. Em seu discurso, ela disse que os produtores lhe disseram que ela seria uma atriz pipoca, um rostinho angelical e ela envelheceu como todas nós. Ser protagonista de um filme, sair na rua, entrar numa academia, dar uma aula, quando se é velha, exige coragem. O mundo olha para nós com um olhar de desprezo. Homens velhos, com mais de 50 anos tem um valor, seus cabelos brancos lhe conferem charme. Nós mulheres precisamos de mil artifícios dolorosos para disfarçar o que não pode ser disfarçado, o tempo passou.
As tentativas de lutar contra o tempo, causa dor, frustração e por isso é tão asqueroso assistir ao filme “A Substância”. Na academia, homens velhos com corpos sarados se sentem deuses, e as mulheres gordinhas são tratadas por eles como se fossem um objeto fora do lugar. Ouvi um cara gordinho falar com seu personal, “as mulheres depois dos 35 anos decaem e os homens estão no auge”. Não consegui me conter e disse para o vento: “os homens esquecem que ficam brochas”. O mundo é cruel com as mulheres velhas. Se fosse possível nos trancariam em casa. Os jovens dizem, “deixa eu passar com a minha juventude e não me atrapalha”, os homens velhos pensam, “deixa eu passar com a minha inconsciência, porque você me lembra que eu também estou velho e quero me esquecer disso”.
Fernanda Torres, 59 anos, Demi Moore, 62 anos, viva as mulheres velhas, temos valor e o mundo terá que nos engolir. Vamos levar nossos corpos para tomar sol na praia e não adianta tentar nos proibir como tentaram fazer com a Beth Faria. Eu sou uma mulher velha, em janeiro de 2025, eu completo 57 anos. Tenho orgulho dos meus cabelos brancos. Acho as mulheres grisalhas, lindas e charmosas. Estou numa idade que me permite ser eu mesma, com doçura e um pouco de acidez com os comentários machistas e cruéis. Ser mulher não é fácil nem para as jovens, imagina para nós, as velhas. Porém tenho algo a dizer, o mundo é nosso. Grata Fernanda e Demi, vocês são maravilhosas, ainda há muito para conquistar, o mundo não o bastante.
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