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Vou parar de pregar e lidar com o meu complexo messiânico

Foto do escritor: Silvana VenancioSilvana Venancio


Como eu vou parar de pregar? São 13 anos de estudo de teologia, 4 anos de faculdade de jornalismo, 4 anos de filosofia, todas profissões de fala, sem falar na minha atividade principal, atualmente, como terapeuta junguiana. Falar é o meu trabalho, escrever é o meu trabalho. Como eu posso parar de pregar então?


Vou responder a minha pergunta, contando uma história. Quando eu tinha 12 anos eu queria ser missionária. Missionária é uma pessoa que se sente vocacionada a falar de Deus para as pessoas. Ainda acredito que essa  ainda seja uma vocação, mas não se trata de convencer ninguém e nem de torná-las cristãs. Um bom missionário deveria levar a palavra de Jesus as pessoas, como um mestre, um guia que nos direciona para olhar para o nosso interior


O grande perigo de escolhas profissionais como de missionários, pastores, assistentes sociais, professores, terapeutas é um complexo messiânico. Queremos salvar as pessoas, mas salvar de quê, do inferno? Não, salvar de suas sombras, de suas dores. Só é possível ver a sombra, quando há luz. Pessoas iluminadas, pessoas que desejam seguir um  caminho do bem, possuem uma sombra enorme. 


Eu tenho sombras, todos nós temos. Para lidar com elas e parar de querer salvar os outros, eu preciso realmente internalizar uma fala de Carl Gustav Jung bastante conhecida: “Quem olha para fora sonha e quem olha para dentro acorda”. Como terapeuta eu sei que quando algo no exterior me incomoda é porque tem ressonância com algo que existe dentro de mim. Um dos meus autores preferidos, Hermann Hesse, disse que o “que não está em nós, não nos incomoda". Essa é uma daquelas frases que eu nunca gostaria de ter lido. Não sou mais inocente.


O mundo me atravessa, meus filhos me atravessam, minha família, meus amigos, clientes, paroquianos me atravessam. Eu não sou um “eu” isolado no mundo. Mas eu vou parar de pregar, pelos menos eu vou tentar parar de pregar e jogar luz, nesse complexo messiânico junto com a minha analista. Isso não significa uma parada literal, as pessoas ainda vão ouvir a minha voz, ler os meus textos. Eu vou tentar não olhar muito para fora, parar de pregar para a conversão dos outros, que significa mudança de direção, e olhar pra dentro, para a minha alma. 


Existem tantas dores, dificuldades, emoções mal trabalhadas. Deixar morrer o que precisa morrer e viver o que precisa viver. Eu sou pastora, terapeuta, professora, meu trabalho é ouvir e ajudar as pessoas a encontrarem suas próprias soluções e o  seu próprio caminho religioso. Não posso impor a minha visão de mundo. Vou olhar para minha alma e convido você a fazer o mesmo.


Silvana Venancio,  terapeuta junguiana.

Instagram: @silvanagvenacio

Youtube: @silvanavenancio


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