Dentro de cada um de nós, mulheres ou homens, existe uma energia de cuidado. Em algumas pessoas, essa energia é maior; nas mães, por exemplo. Existem mães que se destacam pelo cuidado e pela preocupação com a sua prole. Isso já é algo esperado, de alguma forma. A maternidade – pelo menos em determinadas fases da vida dos filhos – é exigido muito cuidado, como com os bebês, as crianças e os adolescentes.
Mas existe outro nível de energia de cuidado que se manifesta na vida das pessoas que as levam a escolher profissões que exigem um zelo maior em relação às pessoas. Profissionais da saúde: enfermeiros, médicos, farmacêuticos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas; profissionais que cuidam da alma, como: psicólogos, todos os tipos de terapeutas, pastores, assistentes sociais. Somos esse tipo de gente que entendeu, em algum momento das nossas vidas, que seríamos cuidadores. E a questão que surge daí é: quem cuida de nós enquanto cuidamos?
O que une profissionais tão diferentes e os tornam semelhantes às mães é que todos nós em algum momento de nossas vidas, negligenciamos o cuidado conosco mesmo. E isso é muito grave.
Eu diria, para ser bem dramática, que isso é quase um pecado. Eu me coloco aqui como essa pecadora. Nós mulheres, geralmente, tentamos resolver essa questão de duas formas: ou não cuidamos de nós ou elegemos alguém que achamos que cumprirá esse papel.
Acreditamos, ou melhor, fomos ensinadas, por filmes, novelas, histórias de contos de fadas, por nossas famílias e por toda a sociedade, que um dia alguém nos salvaria da torre da solidão, dos perigos da vida e cuidaria de nós. Elegemos que um homem, um namorado, um marido, esse ser com “superpoderes” irá nos proteger e cuidar de nós.
Já ouvi de inúmeras mulheres a seguinte frase: se eu ficar doente, se me acontecer alguma coisa, quem cuidará de mim? Muitas de nós acreditamos, ou melhor, temos a ilusão que esse cuidador é um namorado ou marido. Sem essa presença, estamos indefesas e achamos que somente um relacionamento afetivo dará conta de nossas carências, medos e inseguranças. E isso nem sempre acontece, porque é impossível, porque esse homem é um ser humano tão carente como nós.
Para os homens, a questão do cuidado é ainda pior, pois em algum lugar do passado, em algum momento da história humana, eles ocuparam esse papel de guardiões do castelo. E aí todos os nossos problemas se intensificaram. De um lado estamos nós, mulheres carentes, que pensamos que estamos desprotegidas e, no outro, homens que mal conseguem lidar com suas próprias carências e complexos tendo que exercer o papel de fortes e protetores. Eu nem preciso dizer pra vocês o resultado disso. Mas vou dizer: decepção, domínio, frustração e cobranças.
Por isso, eu quero te dar uma sugestão, não é um conselho, é apenas uma sugestão que vem de um sentimento que nasce do coração de uma mulher que já passou dos 50 anos e que já viveu o bastante para ver que isso não está dando certo: que tal se nós olhássemos para dentro de nós mesmos, nos apoiando naquele que é fonte de todo o cuidado, cuidássemos um pouco mais de nós? Sem delegar essa tarefa para ninguém.
Eu tenho uma notícia para te dar: como pessoas adultas, responsáveis por pagar as nossas contas, pessoas que tem um CPF, uma conta bancária, somos responsáveis moralmente, civilmente e criminalmente por nossos atos. Nós somos os únicos, as únicas pessoas responsáveis para ocupar esse lugar. Deus nos deu, os nossos pais ou a sociedade para fazer isso durante um tempo das nossas vidas. Agora é com a gente. Isso é a vida adulta. Pessoas autônomas, livres, responsáveis que cuidam de si.
Imagina isso, você consegue imaginar uma sociedade de gente que cuida de si, que não transfere essa responsabilidade para o outro, porque esse outro, está ocupado em cuidar de si próprio? Gente curada. Gente que não reclama, gente que não transfere a sua carência para o outro preencher. Gente de bem com a vida, gente legre, divertida, gente que não briga por qualquer coisa.
Eu não sei você, mas eu cansei de reclamar que ninguém cuida de mim. Eu cuido de mim e sabe como eu cuido? Eu oro, fico em silêncio, faço exercícios, pergunto para mim o que eu quero, o que eu gosto de fazer. Eu cuido de mim, quando eu deixo de querer agradar as pessoas por medo ou por querer sem legal. Eu cuido de mim, quando eu durmo cedo para ter mais energia para trabalhar no outro dia. Eu cuido de mim quando eu tenho contato com a natureza, quando eu dou um mergulho na praia ou entro numa cachoeira gelada porque isso renova a minha energia. Eu cuido de mim, quando eu vejo a minha série favorita, sozinha, fico rindo como uma criança. Eu cuido de mim, quando eu dou prioridade para as minhas necessidades, sonhos e desejos. Eu cuido de mim, porque eu sei que Deus também cuida.
Fica com Deus, até o próximo texto. Lembre-se de curtir, compartilhar com seus amigos e deixar o seu comentário aqui. E curta também a nossa página no Facebook. Grata! Silvana Venancio.
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