A releitura de um clássico como A Ética Protestante e o Espírito do capitalismo me levou a pensar sobre o peso das obras no cristianismo protestante. Não vou fazer um resumo da obra de Marx Weber aqui e nem fazer um comentário do texto do sociólogo, mas tem uma coisa muito interessante que eu gostaria de ressaltar. Para o sociólogo alemão, em quase todas as vertentes do protestantismo, o comportamento moral se tornou um sinal visível de uma graça indivisível.
Somos salvos pela graça, que significa à grosso modo, um dom imerecido, ou seja não há nada que possamos fazer de bom ou de ruim que contribua para a nossa salvação. A salvação é um ato exclusivo de Deus, que os humanos tomam posse através da fé. Embora isso seja verdade, existe uma observação na carta de Tiago que nos alerta sobre o valor das obras. Porém, o que são as obras?
Acho que ninguém daria outra resposta: as obras são atos de amor e de misericórdia no sentido de fazer o bem ao próximo e ao ambiente que nós vivemos, incluindo aí a natureza, os animais, as questões políticas e sociais. Esse sim seria um sinal visível da fé, Tiago diz que a fé sem obras é morta.
Antes de Tiago, Jesus Cristo, que é o único motivo dos nos chamarmos de cristãos, em um dos seus últimos sermões, disse que o critério de salvação não seria dizer: Senhor, Senhor, mas visitar os presos. Ele não disse evangelizar os presos, mas oferecer um agasalho pra quem passa frio e assim por diante.
Porém, isso não é um critério ou uma evidência de salvação no nosso meio. E ainda, embora tenha uma orientação do apóstolo Paulo para não se embriagar com vinho, não há muita ênfase nesse assunto. E apesar de falar dos beberrões, ele também fala dos glutões.
Mas o ponto não é pesar o que mais importa, ou que trás mais estragos sociais e pra saúde. A questão é perceber que não beber, não fumar e controlar o corpo se tornou um sinal da salvação, substituindo os sinais que foram citados, que hoje são atribuídos como uma preocupação dos espíritas e não de cristãos protestantes.
As questões morais, evitar a aparência do mal, como alguns gostam de dizer era um preocupação dos fariseus, que eram constantemente criticados por Jesus. O que incomodava esses religiosos, fiéis a lei era o espírito livre de Jesus, ele não estava preocupado com a aparência do mal e por isso ele era um homem alegre e festivo.
É possível perceber nas narrativas dos evangelhos que Jesus não perdia um convite para uma festa e nem um jantar com um bom vinho. Jesus não era uma pessoa afetada por um complexo messiânico, embora fosse o messias.
Ele cumpria a sua missão com leveza, enquanto pregava o evangelho aos pobres e curava as suas feridas, ele jantava, celebrava com os amigos, tinha tempo para uma boa conversa. Beber, fumar, dançar, não era uma questão pra Jesus, mas é pra nós e por que será?
Quando as pessoas olhavam pra Jesus viam que havia algo e diferente, aliás, eram os pecadores, esses que bebiam, fumavam e iam a shows de rock, da ultima banda de Jerusalém, que eram seus amigos e companheiros, além dos discípulos e discípulas que eram pessoas bem controversas. Porque os santos, os fieis, achavam que ele era endemoninhado. E quando as pessoas olham pra nós, o que elas vêem?
Será que uma pessoa que bebe e fuma, mas que vive de acordo com Mateus 25, pode ser considerado um seguidor de Jesus? "Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial.
Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. "Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? ’ "O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.” (Mateus 25: 31-40).
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