A resposta para esta pergunta pode percorrer dois caminhos. O primeiro, é do ponto de vista do entendimento do texto e o segundo é como esse texto nos afeta e nos leva a agir.
Em relação ao primeiro ponto, sobre o entendimento do texto, existe uma concepção ingênua entre nós, que somos herdeiros da hermenêutica romântica do final do século XVIII e do início do século XIX. Hermenêutica pra quem não está familiarizado com esse termo, significa interpretação. A hermenêutica do romantismo tinha a ideia de compreender o texto melhor do que o próprio autor teria compreendido. Pra gente entender como isso funciona, seria uma espécie de poder de entrar na mente do autor, meio professor Xavier dos X-Man. O dom de penetrar no íntimo da mente de um autor. É dessa hermenêutica que vem a pergunta, o que o autor quis dizer com esse texto?
Como nós somos pessoas normais, sem superpoderes, essa pergunta pode ter traumatizado muita gente. Eu não sei se as professoras de português e literatura ainda fazem este tipo de pergunta, mas nos meus tempos de escola ela causava um terror entre os alunos. Como eu vou saber o que o autor quis dizer com este texto? Eu não posso entrar na cabeça dele. O fato é, que isso não acontecia somente na escola, a maneira de interpretarmos a Bíblia, também seguiu esse modelo.
Graças a Deus, esse tipo de pergunta já não faz mais sentido hoje, embora ainda existam alguns que ainda seguem esse modelo para interpretar os textos bíblicos. O jeito que a hermenêutica bíblica encontrou para sair dessa armadilha foi dar mais atenção ao texto e não a intenção do autor. No entanto, o foco no texto, no mundo do texto, pode nos levar a outro problema que é fazer uma leitura literal dos textos, ficando com a letra, sem ponderar sobre o contexto cultural onde eles foram escritos. Além de existir uma diferença, de muitos anos, entre as primeiras recepções desses textos e a nossa percepção do mundo hoje, existe ainda uma diferença cultural enorme que nos separa.
Mas alguém pode dizer, que a Palavra de Deus é imitável, e eu concordo plenamente com essa afirmação. A Revelação de Deus é a mesma em todos tempos. Porém aquilo que Deus nos revela não pode ser confundido com a letra, se não fosse assim, nós não poderíamos traduzir a Bíblia e todos teríamos que saber hebraico, grego ou aramaico.
É muito importante o mundo do texto, mas é necessário tomar alguns cuidados e uma alternativa pra sair do excesso de preocupação somente com o texto é se voltar para o mundo do leitor. Essa é uma tendência importante na hermenêutica contemporânea que é a ideia de que eu me compreendo diante de um texto. A questão é quem eu sou e quem eu me torno quando eu leio a Bíblia. Uma leitura literal de muitos textos bíblicos pode ser oriunda de um coração fiel, cheio de vontade de servir a Deus. No entanto, o resultado dessa leitura, na vida e nos seus relacionamentos dessa pessoa pode ser um desastre. E por que isso acontece?
Porque não há um cuidado em respeitar as diferenças culturais e no modo de entende a vida hoje. Não dá pra transportar comportamentos e jeito de se vestir, por exemplo, da palestina dos primeiros séculos para os dias de hoje, sem que a pessoa se violente, ou seja, cruel e exigente demais com as outras pessoas.
A bíblia é a Palavra de Deus viva, a letra mata e o Espirito vivifica. A leitura da bíblia deve produzir vida, e não tristeza, medo e isolamentos. Faça uma autoanálise e se pergunte sobre a maneira como você lê a Bíblia e como isso afeta sua vida e das pessoas que estão a sua volta. A maneira como você lê produz vida, harmonia e paz ou produz contenda e divisões? A leitura da Escritura Sagrada deve melhorar os nossos relacionamentos, nos tonando pessoas melhores e o contrário. Como lemos a Bíblia diz muito sobre o Deus que nós servimos e quem nós somos de verdade. Fica com Deus, até o próximo texto. Lembre-se de curtir, compartilhar com seus amigos e deixar o seu comentário aqui. Grata! Silvana Venancio.
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