top of page
Foto do escritorSilvana Venancio

Para quem tem coragem de amar: divagações sobre o amor a partir da Psicologia Junguiana


Sempre ouço as amigas falarem que estão abertas para um novo relacionamento. Parece que existe a busca de algo que está longe do nosso alcance, uma corrida de gato e rato. Queremos ir em direção ao amor e algo nos move na direção contrária. Me perdoem o engessamento, mas vou falar aqui de relacionamentos heterossexuais, mas parece que o mesmo vale para relações homoafetivas. O que queremos, quando falamos sobre a possibilidade de amar? O queremos encontrar num relacionamento amoroso? Parceria, cumplicidade, acolhimento? Isso reflete a nossa luz e o lado sombrio, onde fica?

Ele está onde não queremos ir, no profundo, no inconsciente, lá onde moram seres e parte da nossa alma que são desconhecidas. Nem sempre temos coragem para amar. Porque o amor exige coragem. Porque não existe amor sem aproximação, sem contato. Amar significa entregar abertura e nesse movimento irão aparecer coisas que nem sempre queremos ver. No amor, eu sou por inteira e isso significa que tudo vem para cima, para a consciência, para a relação, meus medos, meus defeitos. Nos relacionamentos, a nossa auto imagem é abalada, talvez seja por isso, entre tantos outros motivos, que existam tantas pessoas em sites de relacionamentos fingindo ou se auto enganando que querem um relacionamento.

Amar exige coragem, pois no amor, eu também vou lidar com o outro por inteiro, seu lado mais bonito e mais sombrio. Clarissa Pinkola Estés, no livro Mulheres que correm com os Lobos, fala em beijar a cabeça da megera, da caveira. Me pergunto, será que amar é algo possível depois dos 50 anos? Será que pessoas que já passaram da meia idade conseguem sair da sua zona de conforto e irem ao encontro do desconhecido, do inesperado, da falta de controle? Convenhamos, nós temos o controle dos nossos horários, da nossa rotina, o que me faria sair desse lugar e ir até o desconhecido? O amor, o amar?

Carl Jung diz que o amor tem “um significado muito maior do que o indivíduo imagina”. Será que nos enganamos, estamos cegos, cegas e esquecemos desse significado? existem tantas possibilidades de amar, e o amor erótico é uma delas. Amar é se entregar, amar é uma dimensão de abertura, na qual o desconhecido vai se tornando conhecido. Não acredito em amores à primeira vista, não acredito em paixões repentinas. Acredito no amor, ele demora. Na mitologia ele é um Deus. Com Eros não se brinca e nem se esconde. São João da Cruz diz que o amor não cansa e nem se cansa. Sempre vai existir a possibilidade de amar, o amor está sempre está nos esperando na próxima esquina, basta ter coragem para se abrir, se decepcionar e se alegrar. Que venha o amor!


by Silvana Venancio, Doutora em Teologia, Arteterapeuta e especialista em Psicologia Junguiana


29 visualizações2 comentários

2 Comments


Patricia Gregory
Patricia Gregory
Jun 21

Acho que esse medo do qual você fala pode estar associado ao fato de que a proximidade com o outro, aos poucos vai retirando o brilho e a magia inicial. A intimidade expõe, e sem a devida atenção, por mais contraditório que pareça, afasta. Penso que na meia idade, com a vida encaminhada, só vale a pena deixar entrar alguém que some muito, porque à essa altura da vida, já aprendemos o valor das concessões que fazemos, e o custo que a falta de reciprocidade gera. Você tem razão Silvana, o amor demora, mas nesses tempos super dinâmicos, de escolher parceiros através de cardápios virtuais que oferecem um sem fim variado de possibilidades, a disponibilidade pra esse tempo de demo…

Like
Silvana Venancio
Silvana Venancio
Jun 23
Replying to

Grata, Patrícia, novos tempos, novas posturas. O desafio é aprender nesse novo mundo, nesse novo contexto. 😍

Like
bottom of page