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Foto do escritorSilvana Venancio

O que te impede de ser você mesmo?


A minha identidade é formada a partir da compreensão de ser cristã. Formada numa tradição protestante, mais de cunho evangélica, porém com uma formação acadêmica de vertente católica romana, e vivendo num país com múltiplas experiências religiosas. Essa pluralidade só me mostra que somos muitos parecidos e muito diferentes ao mesmo tempo. As nossas liturgias podem ser diferentes, e as nossas crenças também. Somos muitos diferentes, nesse universo religioso, mas as nossas dúvidas, as nossas questões mais essenciais são quase todas iguais. Não importa em que momento da vida nós estejamos, a nossa idade, a nossa confissão religiosa, somos seres finitos, cheios de medos e incertezas. As dúvidas, os questionamentos, nos inserem no mundo humano e revelam a nossa sanidade. Negar isso é caminhar para a insanidade, para a ansiedade, e muitas vezes, isso é um caminho sem volta.

Existem algumas maneiras de lidar com a nossa humanidade imperfeita, porém, o caminho que muitos escolhem é negar isso, por vários motivos. Mesmo que uma pessoa nunca tenha lido uma página da Bíblia ou entrado numa igreja. De alguma forma, ela é influenciada por determinadas interpretações do texto sagrado. Essa negação também pode acontecer, por outros motivos, como tentar viver, segundo alguns padrões de perfeição. Essa leitura do mundo, da vida, está presente nos sermões, em livros religiosos. Está presente na literatura universal, nos filmes, nas novelas. Está na nossa família, nas coisas que ouvimos e vemos, ou seja, o tempo todo somos bombardeados por ideias que nos dizem como devemos viver. Ainda existe o discurso, que de um modo explícito ou implícito, nos diz que precisamos ser fortes, que devemos ter certezas, e devemos ser equilibrados. Ser equilibrado é o que eu mais gosto, fala sério, eu não sou equilibrada. Como eu posso ser? Eu tenho milhões de hormônios no meu corpo, que definem o meu humor. Eu fico horas presa no trânsito e isso afeta as minhas reações. Como eu posso ser equilibrada nesse mundo?

A boa notícia é que Deus sabe que nós não somos seres equilibrados, somos seres finitos, limitados. Então de onde vem tanta cobrança para sermos equilibrados, perfeitos e fortes? Sinceramente eu não sei, porque vem de muitos lugares. Vem do desejo de negar a finitude, pois com ela, negamos que vamos morrer. Vem de uma má interpretação da filosofia grega, que nega o corpo, e por isso, nega também a nossa humanidade, as nossas falhas. Vem de uma leitura equivocada da Bíblia, e da falta de uma boa cristologia. Vêm cá, os heróis bíblicos são todos humanos e cheios de erros e dúvidas. O Deus dos cristãos se fez homem, e mesmo assim, queremos negar a nossa humanidade. O Deus cristão se fez vulnerável, chorou e se permitiu morrer. Nós que somos humanos queremos negar a morte e queremos ser forte o tempo todo. Somos da raça humana, não tem jeito, somos assim e o bom disso tudo é que Deus nos ama do jeito que somos. Quando erramos e quando acertamos, ele não nos ama mais e nem menos.

Uma coisa é certa, eu não sei vocês, mas eu estou cansada de ser forte. Cansada de não assumir as minhas duvidas, cansada de tentar ser perfeita. Seja como for, pode ser que todos os sermões que eu tenha ouvido na vida estejam certos, e que essas interpretações da Bíblia e do mundo, também, não importa. Eu cansei. Eu quero ser eu, ser humana, admitir minhas falhas, não quero negá-las, usando um discurso religioso. Não quero usar jargões que me impedem de ver que eu tenho duvidas. Eu assumo os riscos da fé, e continuo caminhando “ainda que”. Eu não sou forte o tempo todo, muita coisa me atinge, sou vulnerável. Não sou perfeita, nem quero gastar a minha energia buscando a perfeição, prefiro ser humana. Pois assim, eu consigo perceber os meus erros, pedir perdão e corrigi-los.

Uma coisa eu sei, não dá pra não ser quem eu sou. Não é possível gastar tanta energia correndo atrás do vento, ficando ansiosa, correndo o risco de uma depressão. A vida é curta, e só há uma possibilidade de vivê-la, e é sendo quem eu sou. Como eu sei disso? Porque o amor de Deus é incondicional. Você consegue perceber o tamanho dessa afirmação? Saber que Deus nos ama incondicionalmente, nos deixa mais leves pra viver a vida, sem medo de errar. E isso é libertador. Deus já nos ama de antemão, ele não é pego de surpresa. Ele sabe de que material nós somos feitos. Somos finitos, limitados, frágeis e imperfeitos. Deus nos ama e nos aceita. O quê nós precisamos, então? Ter a coragem de aceitar, que Deus nos aceita. A ideologia, presente no mundo, nos diz que devemos buscar um ideal inatingível. E a voz de Deus diz: - “vinde a mim, vocês que estão cansados”, de não serem vocês mesmos, vocês que não têm a coragem de assumir as suas dúvidas, os seus erros e suas limitações, eu te aceito, eu te perdoo. Eu sou um Deus bom, não tenha medo, eu te ajudo.

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