Parece que estamos assistindo a uma epidemia de solidão no mundo, uma em cada três pessoas vivenciam essa sensação. O estranho nesse comentário é que não deveria ser assim, afinal vivemos num mundo onde as distâncias foram encurtadas, onde não existem mais fronteiras. A dor de uma pessoa na Síria é a minha dor. Assistimos a dor e o sofrimento nos países da África e isso nos toca e nos mobiliza. Podemos encontrar os nossos amigos da escola nas redes sociais, vivemos numa época de comunicação instantânea, nada de ficar esperando uma carta ou enviar uma mensagem para um pager e aguardar uma ligação. Estamos todos conectados nesse mundo globalizado. Os tempos são outros e tudo isso é muito bom.
No entanto, parece que todos esses avanços tecnológicos não diminuíram a nossa solidão e nem preencheram o nosso vazio. O mundo de relacionamentos e de amizades virtuais não consegue estancar o vazio e a solidão da minha alma. Eu sou alguém afetada por uma solidão primordial e isso faz parte da minha condição humana. Constatar isso, no entanto, não é pessimismo e nem sinal de depressão, é sinal de saúde. Saber que eu sou sozinha e que nada e nem ninguém nesse mundo podem preencher o meu vazio faz com que eu me sinta mais leve, que eu cobre menos, e diminuiu a minha raiva quando eu tenho as minhas expectativas frustradas. Uma coisa que eu tenho feito, depois de alguns anos de terapia, é examinar os meus sentimos; e eu te convido a fazer o mesmo. Por que agimos com raiva e somos agressivos quando as pessoas negam o carinho, a atenção e o reconhecimento que esperamos? Eu não sei você, mas não ter a coragem de lidar com a minha carência infinita alimentou a minha raiva e o meu descontentamento durante muitos anos. Para evitar a tristeza, eu ficava com raiva. E eu não quero mais agir assim.
A consciência dessa solidão constitutiva, saber que a experiência de vazio é uma marca da essência humana tem o poder de me deixar mais leve. Porque é minha responsabilidade lidar com isso, eu não posso transferir essa tarefa pra ninguém. Essa dor é minha. Não existe culpados. Nenhum curso, nenhuma festa, nenhuma atividade espiritual ou intelectual vai terminar com ela. Nem meus filhos, meus futuros netos, nem a minha igreja, o meu trabalho. Não será mais um curso, mais um retiro, mais um workshop que irá me tirar desse sentimento. Eu preciso lidar com isso, sem transferir essa responsabilidade.
Porém, me perceber sozinha não me leva para o isolamento, muito pelo contrário, me aproxima das pessoas, com mais leveza, porque o outro tem a mesma dor que a minha. Somos duas solidões, em busca de aconchego, sem grandes cobranças, com aproximação e afastamento.
Eu também preciso de pausas. Eu não tenho condições de me disponibilizar para as relações o tempo todo. Eu quero sair da solidão para o encontro. Mas existe muita diferença entre necessidade e desejo. O meu desejo de comunhão está quase na mesma proporção da minha necessidade de ficar sozinha. Na minha jornada de espiritualidade, eu descobri que nem Deus preenche totalmente o meu vazio, ele é o absolutamente Outro, que me escapa. O que fazer então? Ora, fica em silêncio e foge para o deserto. Lá no deserto da alma, onde nos encontramos, nus, sozinhos e vulneráveis, nessa experiencia encontramos Deus. Encontramos quem realmente somos, tomamos consciência dos nossos desejos mais profundos. Nessa experiência de dor, de vazio e de abandono, nos tonamos mais humanos, mais sensíveis e mais dependentes de Deus. Descobrimos que podemos nos aproximar nas nossas dores, descobrimos que o outro é tão carente como nós, tão limitados como nós somos. Nessa experiencia da Noite Escura encontramos abrigo, consolo e ternura. Deus está do nosso lado, nem sempre o mundo está contra nós, baixemos as armas e nos coloquemos numa jornada de amor. Fica com Deus, até o próximo texto. Lembre-se de curtir, comentar e de compartilhar com seus amigos. Grata! Silvana Venancio.
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