Quem tem o hábito de frequentar igrejas evangélicas, o compromisso de ir todos os domingos, participar dos ministérios, ou seja, ter uma vida eclesial intensa, pode ter percebido que nem sempre a vida concreta está em pauta. Calma, vou explicar. Frequentemente, nos cultos, nas escolas de treinamentos de líderes ou nas escolas dominicais, a ênfase é dada na família e, geralmente, existe um peso enorme sobre a mulher. Interessante que ela não é importante o bastante para poder ensinar, mas é para levar nas costas toda a responsabilidade de manter a sua família saudável.
Cabe a pergunta, então: como seriam as igrejas – tanto católicas quanto protestantes – se fossem as mulheres, as responsáveis pelo ensino da Bíblia, fossem sacerdotes, pastoras? Alguém pode dizer: mas existem igrejas que ordenam mulheres. É verdade, porém, o ensino, ainda está encharcado de valores masculinos.
Mas esse não é o ponto principal desse texto. A questão é que a vida concreta só aparece, muitas vezes, no âmbito dos relacionamentos e sempre num contexto de ensinar a viver. Parece que a vida que a gente leva no nosso dia a dia não tem valor, se ela não passar por um crivo da autoridade para verificar se aquilo que estamos vivendo é certo ou errado.
A vida é sempre maior, a vida escapa a qualquer tentativa de doutrinação. A vida tem uma textura, de sangue, pele, cabelo, odores. A vida não é apenas o que eu penso como ela deveria ser, mas aquilo que é. Tem coisas que eu sinto, tem coisas que eu rejeito, e eu não tenho tanto controle assim.
Mas uma vida domesticada por um ensinamento que nos diz como sentir, amar, viver, é uma vida adoecida. Talvez seja por isso que haja tanta gente deprimida, com transtornos de ansiedade e compulsões dentro das igrejas. Talvez seja por isso que quase todos nós oramos e lemos a Bíblia todos os dias e não conseguimos seguir o exemplo do Salmista: “Em paz me deito e logo pego no sono, pois só tu me fazes repousar seguro”.
Temos uma vida real, com todas as contradições que a vida traz e tem uma vida pregada nos cultos. Como a nossa vida, nem sempre cabe nesse modelo, nos forçamos a vestir essa “roupa”, e o resultado nós já sabemos.
Eu sei de uma coisa, sei por experiência, sei com textura, com sangue, suor e lágrimas: eu só posso viver a minha vida dentro da minha vida. Eu não posso ter outra vida. Será que foi por isso que Deus se encarnou e viveu a vida humana para saber o que a gente passa? Como dói sentir-se abandonada e traída? Um Deus de carne e osso. Talvez a encarnação, além de todas as explicações teológicas que nós temos, seja uma maneira de Deus lembrar-nos de que somos apenas humanos, criaturas feitas de barro.
Fica com Deus, até o próximo texto. Curta, compartilhe com seus amigos e deixe o seu comentário aqui. Me segue também no Instagram e no YouTube. Visite e curta a minha página no Facebook. Grata!
Silvana Venancio é pastora, teóloga e professora de Filosofia. É divorciada, mãe do João Paulo e do José Esthevão. Discípula de Jesus de Nazaré há quase 40 anos, vive a sua espiritualidade com respeito e abertura a todas as confissões religiosas.
Mentora de Espiritualidade, ajuda mulheres a se reconectarem com elas mesmas, através da espiritualidade e do autoconhecimento. E como faz isso? Através de cursos, palestras, retiros, workshops em instituições religiosas e seculares. Entre em contato e podemos conversar mais de como posso te atender:
Cel: (21) 99799-2971; email: sgvenancio@gmail.com
댓글