A solidão é uma escolha? Reflexões a partir da Psicologia Junguiana e da Espiritualidade

Não, a solidão não é uma escolha. Ela simplesmente acontece com as pessoas maiores de 50 anos. Os filhos casam ou vão morar sozinhos. Os parceiros morrem ou o divórcio nos encontra. Na psicologia junguiana, Carl Jung fala que no “outono” da vida, o convite é para uma descida, para fazer um mergulho na alma. Esse mergulho é um convite à espiritualidade.

A solidão faz parte da condição humana. Em algum momento da vida vamos nos deparar com ela e vamos querer fugir desesperadamente. Mais um encontro, mais uma balada, mais uma viagem. Existem mulheres e homens que acham que vão conseguir fugir para um casamento ou para a vida dos filhos. Mas é só um adiamento, em algum momento ela vai te encontrar. O que fazer, então? Pare de fugir e olha pra ela.

O que a solidão tem a dizer para você. Tente transformar a solidão em solitude. Convide pessoas para te visitar na solidão, não para te tirar dela. Solidão é silêncio. Henri Nouwen diz que a solidão é a fornalha da transformação, isso me faz lembrar de uma história bíblica, dos amigos de Daniel que foram jogados na fornalha. Lá, eles tiveram um encontro celestial. 

A solidão é o caminho para a solitude. Existe nesse caminho a possibilidade de um encontro verdadeiro com a nossa verdade. Com as nossas dores, fraquezas, limites. Eu sei que é dolorido. dói em mim também. Mas não existe transformação sem dor. Sinto te dizer isso, mas é a pura verdade. É na solidão, onde acontece um encontro verdadeiro com a nossa alma. Nesse encontro, podemos entrar em contato com a sombra, com as nossas projeções.

Na solidão, nesse encontro sem máscaras, despidas das personas, o outro pode surgir e ser acolhido nas suas fragilidades, fraquezas, dores e alegrias, também. O outro deixa de ser o inimigo, o diabo que me afasta e se torna um amigo, uma amiga, companheiros de jornada. Companheiros que se encontram em suas solidões, renovados, para mais uma vez se aventurar no mundo.

A solidão se transforma em solitude, quando trilhamos um caminho de espiritualidade, com coragem de aceitar o nosso estado de vida, ao invés de brigar com ele. A solidão ensina, ela diz aceitação. Ela fala, você não está sozinha, sozinho, existem muitos solitários no mundo. Ela é tua amiga, aceite, ouça e ficará tudo bem.

by Silvana Venancio, teóloga e especialista em psicologia junguiana.